Roda Griô
(04 de Agosto de 2015)
Neste encontro discutimos sobre a vida de Conceição Evaristo, da memória, da literatura e historiografia, da invenção e dos fatos. Uma roda de risos, mas acima de tudo, partilha de conhecimento.
(Foto: Conceição Evaristo)
Sou mineira, filha dessa cidade, meu registro informa que
nasci no dia 29 de novembro de 1946. Essa informação deve ter sido dada por
minha mãe, Joana Josefina Evaristo, na hora de me registrar, por isso acredito
ser verdadeira. Mãe, hoje com os seus 85 anos, nunca foi mulher de mentir.
Deduzo ainda que ela tenha ido sozinha fazer o meu registro, portando algum
documento da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Uma espécie de
notificação indicando o nascimento de um bebê do sexo feminino e de cor
parda, filho da senhora tal, que seria ela. Tive esse registro de
nascimento comigo durante muito tempo. Impressionava-me desde pequena
essa cor parda. Como seria essa tonalidade que me pertencia? Eu não
atinava qual seria. Sabia sim, sempre soube que sou negra.
Conceição
Evaristo
Belo
Horizonte, Maio de 2009
Conhecendo um pouco do que esta grande mulher escreveu:
O mar vaguei onduloso sob os meus pensamentos
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
(Conceição Evaristo)
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