sábado, 6 de agosto de 2011

Mulheres, negros e Mercado de Trabalho

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=0RlnpwW4XN8 
Acesso em: 06 de ago. 2011.

Vejam esse vídeo
Enviado por em 27/04/2011 para o YOUTUBE.COM
Sexta produção da série Jornada: um olhar sobre o mundo do trabalho.

Tesouro africano na PUC-Rio: Lançamento Coleção História Geral da África


Disponível em:  http://www.abpn.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=963%3Atesouro-africano-na-puc-rio-lancamento-colecao-historia-geral-da-africa&catid=1%3Anoticias&Itemid=24&lang=pt
Acesso: em 02 de ago. 2011.
Escrito por Karla Leandro Rascke   
Qui, 28 de Julho de 2011 09:22 














Ano Internacional do Afrodescendente, proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, 2011 contará com um evento que vem para somar na valorização da cultura e na defesa dos direitos fundamentais dos negros. No dia 11 de agosto, das 9h30m às 20h, a PUC-Rio realiza, em parceria com a UNESCO, o MEC e a Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio o evento “Tesouro africano no Rio: lançamento da Coleção História Geral da África”. No dia será lançada uma coletânea com oito volumes sobre a historiografia do continente africano no período pós-colonial.
A obra foi produzida pela UNESCO e por profissionais africanos, no próprio continente, e foi traduzida para o português pela Universidade Federal de São Carlos. Para a PUC-Rio sediar um encontro como este é poder afirmar o trabalho que a universidade desenvolve em prol da liberdade e da afirmação da igualdade racial.

O evento será dividido em mesas redondas que debaterão temas relacionados à obra lançada e à condição do negro no Brasil e no mundo. Entre os convidados estarão o representante da UNESCO no Brasil, Vincent Defourny; o coordenador de diversidade do MEC, Antônio Mário Ferreira; o membro da Frente Parlamentar pela Igualdade Racial, o deputado federal Edson Santos; e a atriz e poetisa Elisa Lucinda.

O encontro servirá, também, para homenagear o ex-senador e ex-deputado federal, o ativista Abdias Nascimento que morreu em maio deste ano. Sua mulher, Elisa Larkin Nascimento, participará de uma das mesas representando o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (IPEAFRO), fundado por Abdias, em 1981, para lutar pelos direitos dos povos negros, principalmente na educação e na cultura. O evento será gratuito e se realizará no auditório do RDC.

Programação
9h – Sessão solene de lançamento da Coleção História da Geral da África
Convidados:
Vincent Defourny – Representante da UNESCO no Brasil
Antônio Mário Ferreira – Coordenador geral de educação para as relações étnico-raciais da SECADI/MEC
Targino de Araújo Filho – Reitor da Universidade Federal de São Carlos
Josafá Carlos de Siqueira – Reitor da Pontifícia Universidade Católica
Edson Santos – Deputado Federal
Jean Wyllys – Deputado Federal

10h:30m – 12h:00m - História da África: aproximações
Coordenação de Elói Ferreira de Araújo – Fundação Cultural Palmares
Afro-centricidade e a História do negro no Brasil
Elisa Larkin Nascimento – Ipeafro
A construção de uma obra monumental
Valter Roberto Silvério – Universidade Federal de São Carlos
Histórias e historiografias africanas pós-coloniais
Embaixador Alberto da Costa e Silva – Embaixador na Nigéria e no Benim, Academia Brasileira de Letras

12h:00m – 14h:30 – Intervalo para almoço
Etni@cidades – Show na concha acústica Junito Bandão
Raul de Barros Jr.

14h:30m – 16h:30m - Arte e afrocentricidade: novas narrativas
Coordenação de Sônia Maria Giacomini – Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente da PUC-Rio
Comentário Eliana Yunes – Cátedra UNESCO/PUC-Rio de Leitura
Pra causar boa impressão
Nei Lopes – Compositor e escritor
Assim foi: se nos parece
Joel Rufino dos Santos – Escritor e historiador
Ponciá: vivência
Conceição Evaristo – Escritora
Mulata: exportação
Elisa Lucinda – Poetisa, atriz

16h:30m – 18h:30m – Comunidades tradicionais: valores ancestrais, novos sujeitos.
Coordenação de Frei David Ofm – Educafro
Comentário de Denise Pini Rosalem da Fonseca – Mapeamento das Casas de Religiões de Matrizes Africanas no Rio de Janeiro, PUC-Rio/SEPPIR/PR
Quilombos e preservação de patrimônios da alteridade
Alexandre Nascimento – Convergência - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais/IESA
Valores africanos que confluem na relação homem-natureza Jêje no Brasil

Maurício Aguiar Dias - Pai Maurício T´Yemonja – Kwe Seja Peja Ci
A importância das Yalorixás no Brasil
Beatriz Moreira Costa - Mãe Beata de Yemonjá – Ilê Omi Ojuarô

18h:30m – 18h:40m – Apresentação de vídeo de Abdias do Nascimento

18h:40m – 20h:00m - Coquetel de encerramento no lobby do auditório
Assessoria de Comunicação Social PUC-Rio

Afrodescendente, o neonegro

Autor: Antonio Risério

Disponível em: . Data de publicação: Quarta, 10 de janeiro de 2007, 07h52.
Acesso em: 01.08.2011.

Não existem mais pretos no Brasil. Agora, são todos "afrodescendentes". Aliás, houve um momento em que a palavra "preto", sabe-se lá por quê, foi considerada pejorativa. Ninguém era, ou melhor, ninguém queria ser "preto". Todo mundo era ou queria ser "negro". Curiosamente, o que acontecia nos Estados Unidos era justamente o contrário. A expressão "negro" é que era denunciada, atacada como racista. Nos EUA, ninguém queria ser "negro". Eram todos "pretos". Black. Não havia um "poder negro", mas um "poder preto", black power. E o marketing da auto-estima negra fazia circular, com sucesso extraordinário, o slogan "black is beautiful" - 'preto é bonito'.
Em termos lógicos, a frase deveria ser considerada racista, do ponto de vista de nossos movimentos negros, durante as décadas de 70 e 80 do século passado... Mas isso ficou para trás. Nossos ideólogos racialistas simplesmente arquivaram os vocábulos "preto" e "negro". O que passou a existir, de uns tempos para cá, foi uma nova categoria. Uma espécie de neonegro - o afrodescendente. Mas o que é mesmo que isso significa? Vamos por partes, como diria Jack, o estripador.
O sintagma "afrodescendente" é uma das fórmulas verbais mais repetidas (e mais lustrosas) do atual léxico ativista que grupos negromestiços brasileiros importaram dos EUA nesses últimos anos. Fórmula, sim. E adotada pelo poder, por nossos governantes, por tudo quanto é político que, pouco importa se de "direita" ou de "esquerda", anda sempre à cata de votos, de aprovação, de ser considerado "progressista" (outra fórmula que faz muito pouco sentido, remetendo, na verdade, às perspectivas e esperanças da Revolução Industrial, que colocou o "progresso" como objetivo supremo da humanidade), de obter alguma espécie de aval ou beneplácito social. Mas, se a fórmula "afrodescendente" pode ser perfeita com relação à situação norte-americana, seu foco, certamente, não incide sobre nós.
Porque tal fórmula ou conceito, tal "ideologema" (como diriam os estruturalistas), apenas sublinha e recorta, cirurgicamente, uma realidade preexistente: o fracionamento étnico de uma nação. Coisa que, se sempre foi facilmente verificável nos Estados Unidos, nunca chegou a se desenhar com clareza no Brasil, com a nossa profusão - socialmente reconhecida, o que é fundamental - de seres mesclados ou híbridos.
Houve uma tentativa anterior de operar nesta direção cirúrgica. Uma investida político-ideológica que apostou no fracionamento racial ou étnico do povo brasileiro. Foi na década de 1930, quando o pensamento nazista pintou por aqui. Ali, pela primeira vez em nossa história moderna, topamos com um empreendimento assemelhado ao atual esforço de aplicação da categoria "afrodescendente". Em "A Identidade do Brasil Meridional" (texto incluído na coletânea "A Crise do Estado-Nação", organizada por Adauto Novaes), o sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, citando um certo Mário Martins, sintetiza:
"Os primeiros intelectuais que elaboraram a diferenciação dos brasileiros por categoria étnica ou religiosa foram os nazistas. O movimento nazista não empolgou a grande maioria dos brasileiros descendentes de alemães, mas também está longe de ter sido uma minoria completamente irrelevante. De acordo com o discurso nazista, não haveria povo brasileiro. 'Não havia, nunca existiram brasileiros, salvo os indígenas. Havia os luso-brasileiros, os sírio-brasileiros, os franco-brasileiros, os afro-brasileiros e etc.' Em 1937, reuniu-se o Terceiro Congresso do Círculo Teuto-Brasileiro... Suas posições intelectuais apontavam para a formação de uma consciência étnica que se manifestasse em uma comunidade distinta e separada enquanto teuto-brasileira... 'Como no Brasil a etnia lusitana é a portadora da cultura oficial, da língua oficial e do poder político, entende-se hoje no Brasil por nacionalidade o reconhecimento da chefia política dos lusos... Nós não reconhecemos a etnia lusitana como representante exclusiva do nacionalismo brasileiro... Com isso nós nos tornamos uma minoria étnica e criamos uma situação semelhante à dos alemães dos sudetos'. O teuto-brasileirismo era interpretado como 'o gérmen do retalhamento do Brasil, com o nazismo no momento, ou com outro nome qualquer futuramente'".
Meus amigos dos movimentos negros (no plural, sempre) que me desculpem: o parentesco é desconfortável, mas é real. Começa com o nazismo esse tipo de leitura que aponta para a divisão étnica ou racial do país. E o parentesco, além de desconfortável, nada tem de superficial ou distante. Pelo contrário: é íntimo e profundo.
Mas vamos adiante. Modismo terminológico à parte, o que o conceito de "afrodescendente" tem a ver com a condição, a circunstância e o momento do negromestiço brasileiro hoje?
É mais do que evidente que milhões de brasileiros possuem ascendência africana, embora raríssimos tenham alguma idéia da parte e do povo da África aos quais suas origens poderiam ser eventualmente retraçadas. Mas o conceito de "afrodescendente" não se refere a esta realidade óbvia e geral. Ao contrário, comprime e estreita o horizonte, afunilando-o numa direção precisa. Quando um indivíduo nascido no Brasil se define como "afrodescendente", ele, desde que saiba do que está falando (o que nem sempre acontece, mesmo no meio universitário e independentemente de cor, classe, credo e preferências sexuais), nos diz o seguinte: que se vê, se sente e se percebe, em primeiro lugar, como um descendente de africanos. E só então, secundariamente, como brasileiro.
Ao Brasil caberia, nesse quadro, um lugar identitário subordinado. Teríamos, assim, o ser brasileiro como complemento ou apêndice do ser africano - e de um ser africano mítico, não é preciso dizer. Bem, é possível que o tal indivíduo acredite piamente no que diz. Afinal, é a ideologia, não a fé, que move montanhas. Mas é evidente que estamos diante de uma fantasia. Ou será que Geraldo Pereira, Pelé, Marisa Montini, Emanoel Araújo, Martinho da Vila, Romário, Camila Pitanga, Lázaro Ramos e Tati Quebra-Barraco se achavam ou se acham principalmente africanos - e só secundariamente brasileiros?

sábado, 7 de maio de 2011

Roda Griô: a abolição e AS ABOLIÇÕES


PARTICIPE!

RODA GRIÔ: EDUCAÇÃO, GÊNERO E AFRODESCENDÊNCIA
Universidade Federal do Piauí – Auditório do CCE.
DIA 13 DE MAIO DE 2011

DEBATE: “a abolição e AS ABOLIÇÕES”
8h – Alci Marcus Ribeiro Borges (Mestre em Educação/UFPI, Especialista em Direitos Humanos, Professor, Advogado);
10h   – Sônia Terra (Ex-Presidenta da FUNDAC, Diretora de Políticas Públicas para Mulheres da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC), Militante do Movimento Negro do Instituto de Mulheres Negras do Piauí (YABÁS);
         - Antônio Bispo dos Santos (Coordenação das Comunidades Quilombolas do Piauí)


Roda Griô: Educação, Gênero e Afrodescendência

No dia 15 de abril aconteceu o segundo encontro "Roda Griô" na Universidade Federal do Piauí.  

 
PROGRAMAÇÃO
14h-16h
TEMA:
O Papel da(o)   Pesquisadora(r)   na  Globalização Perversa: Impasses e Desafios.
MESA:
Elizete Dias da Silva
Haldaci Regina da   Silva
Luciênia Libânio P. Martins       
Ranchimit B. Nunes
(Mestrandas(o) em  Educação PPGEd/UFPI)


16h-18h
TEMA:
Saber, Pesquisa e Atuação Social
MESA:
Ana Carolina M. Fortes
Francilene B. da Silva
Raimunda F. G. Coelho 
(Mestrandas em Educação PPGEd/UFPI)
Coordenador: Prof. Francis Musa Boakari (Ph.D./PPGEd/UFPI) 
Encerramento


Elizete Dias da Silva durante sua exposição disse que a academia parece que nos impõe a “tirar o coração” nas pesquisas que fazemos, se referindo às subjetividades humanas. Elizete vem desenvolvendo uma pesquisa numa comunidade de remanescentes de quilombo, mas que, diferentemente de muitas, é de mais fácil acesso daquelas existentes no Brasil. Localizada na zona rural da cidade de Teresina, esta comunidade, muitas vezes, apresenta, na visão da pesquisadora, um comportamento negativo quando chamada a mostrar suas qualidades e, também, ao ser mencionada pelo povo da localidade, é vista com estigmas. Sua pesquisa versa sobre o por quê das atitudes negativas com relação a essas e esses afrodescendentes. Falou da vida da comunidade como um contínuo movimento onde a “vida corre” e alguns posicionamentos acadêmicos com relação a esse contínuo.

Haldaci Regina da Silva veio trazendo um vídeo documentário sobre o “Candomblé” e fez uma ligação do que foi exposto com a situação da sua pesquisa sobre os Terreiros de Umbanda e Candomblé no Piauí e a educação que as Mães de Santo exercem nesses terreiros. Lembra que Teresina tem mais Mães de Santo do que Pais de Santo e, que, trazer essas populações para serem estudadas na academia, é um desafio que nos faz refletir: Por que tanto preconceito contra as religiões de matrizes africanas e não com aquelas ocidentais? Ser afrodescendente implicaria algo sobre esses preconceitos, discriminações e racismos?


Luciênia Libânio P. Martins vem fazendo pesquisa na área da psicologia e quer saber mais como as mulheres afrodescendentes fazem para ter mobilidade social ascendente e como a auto-estima x baixa estima influenciam nas atitudes e comportamentos de tais mulheres. Luciênia também mostrou um vídeo com várias mulheres de sucesso nas sociedades  modernas e contemporâneas. Parece que a resiliência, a inteligência, a perspicácia das mulheres são fatores que podem fazer a diferença em seus percursos sociais.


Ranchimit B. Nunes está trabalhando com um tema ligado às comunidades quilombolas. Ele fez uma experiência em uma comunidade do sul do Piauí em uma escola quilombola e trouxe para o Roda Griô aquilo que o motivou fazer pesquisa. Na comunidade que trabalhou como pedagogo, é pequeno o número de pessoas que se reconhecem como descendentes de africanos, segundo o mestrando. Ele pretende ainda focalizar o seu trabalho, que ainda está iniciando, na questão de gênero e afrodescendência como influência na educação escolar local.
Saber, Pesquisa e Atuação Social
Prof. Francis Musa Boakari falou um pouco sobre a importância das nossas histórias como pesquisadoras e pesquisadores, e também das vivências com o tema da afrodescendência na academia. Lembrou que, as histórias contadas nesse Roda Griô, fazem parte de tentativas de estarmos comprometidos e comprometidas com as transformações sociais e culturais para alcançarmos perspectivas mais justas.
Ana Carolina M. Fortes narrou um pouco de sua aproximação “embrionária” com o tema que pretende ainda pesquisar no campo da educação escolar aliado às discussões sobre o rendimento dos estudantes afrodescendentes x não-afrodescendentes em escola particular, no cenário teresinense. Discorreu ainda, sobre as possíveis modificações desse estudo, devido às discussões sobre gênero e afrodescendência que vem observando.
Raimunda F. G. Coelho vem organizando seu projeto de pesquisa no âmbito das comunidades quilombolas de São João do Piauí, pensando mais os aspectos das políticas públicas, da comunicação e do movimento social organizado por pessoas dessas comunidades, a pesquisadora traz amplas discussões que serão, com o avançar dos estudos, revistas. E, a partir disso, irá focalizar o seu objeto de estudo e fazer um recorte mais definido do seu problema de pesquisa. Mas, já acentua em sua fala o potencial que essas comunidades vêm desenvolvendo ao longo da história brasileira, piauiense, etc.
"sacos de vivências ou mercadorias"
Francilene Brito da Silva falou dos seus estudos e história pessoal e profissional ligados ao tema da arte afrodescendente brasileira. Introduziu seus pensamentos com uma dinâmica que intitulou de “Sacos de Vivências ou Mercadorias”, onde as(os) partícipes do evento levantaram e foram interagir com vários elementos como: papelão, plásticos e imagens de arte afrodescendente brasileira, que se encontravam dentro de sacos transparentes como se tivessem expostos numa feira livre onde cada pessoa escolhia sua imagem  (escondida no fundo de cada saco). Quis com isso, que refletíssemos sobre o que é que chamamos de “Arte Afrodescendente”. Quais os silenciamentos, os estigmas, os estereótipos presentes nessas imagens? Trouxe ainda reflexões de Antonieta Antonaci e Alberto da Costa e Silva sobre essas artes. Os sujeitos de sua pesquisa serão três professoras/educadores de Arte de Teresina. Entre discurso e prática dessas professoras serão observadas, dentre outras coisas, as ligações que tecem com a Lei 10.639/2003 e 11.645/2008 – que versão sobre História e Cultura Africana e Afro-Brasileira...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Mulher afrodescendente: trajetória de êxito e sucesso




Você acha que lugar de mulher é na cozinha? Lugar das afrodescendentes é cuidar da casa da mulher branca? Caso afirmativo, você precisa urgentemente mudar seus referenciais.


O Século XXI chegou marcado pela agitação dos muitos compromissos e contínua sensação de estar atrasado sem tempo, puro stress! Neste contexto a vida de muitas mulheres se desdobra entre ser mãe, profissional, mulher. Elas acalentam sonhos que ultrapassam sua “fragilidade” para ganhar visibilidade nas conquistas diárias, revelando fortaleza, inteligência, feminilidade, competência, proatividade. Assim se faz caminho que se abre para a posteridade, pois o exemplo feminino derruba preconceitos seculares e contraria as previsões pessimistas. Refletir sobre esta temática parece lugar comum; entretanto, há uma realidade que não se costuma falar: a realidade da mulher afrodescendente.
Passados mais de cento e vinte anos da abolição da escravidão no Brasil (1888), ainda há inúmeros episódios de racismo veiculados pelos Meios de Comunicação Social. É, racismo no Brasil! Não venha dizer que somos uma democracia racial, porque os fatos e a situação econômica de milhões de afrodescendentes desmascaram o perverso racismo brasileiro e, tratando-se da mulher afrodescendente, a discriminação se avoluma: mulher, negra e, se for pobre, forma uma mistura explosiva na “redondeza quadrada” da mente de quem se julga superior por ter pele clara!
Não se concebe em pleno século XXI que uma visão míope (desculpem-me os míopes) acredite na falácia da superioridade racial! Entretanto, transcorridos tanto tempo, há quem se deixa enganar por esse raciocínio medíocre. A ciência biológica afirma não existir  raças entre os humanos. Pesquisas afirmam a África como o “berço da humanidade”; no entanto, a sociedade persiste e insiste na classificação a partir da cor da pele. Ó, quanta insensatez!
O grupo de pesquisa da UFPI, do Centro de Ciências da Educação, sob a orientação do pesquisador professor doutor Francis Musa Boakari, constituído por alunas da graduação em Pedagogia e por mestrandas em Educação, Elizete Dias da Silva e Francilene Brito da Silva desenvolve a pesquisa Estórias de brasileiras afrodescendentes de sucesso: diferenciações intergeracionais de raça e gênero na educação. “O propósito básico deste estudo é determinar, aprofundando a compreensão das experiências e estratégias que as mulheres afrodescendentes de gerações diferentes usam para superar as discriminações raciais e de gênero presentes nas suas vidas cotidiana e sócio educacional e também, desvelar se as políticas que objetivam amenizar e remover as desigualdades sociais baseadas na raça e no gênero estão de fato, tendo os efeitos desejados na vida da população negra”. (Objetivo geral do Projeto)
Nossa pesquisa tem relevância científica e social por tratar de tema silenciado na nossa sociedade e quer contribuir para a reflexão e superação do racismo no Brasil. Para realizar o objetivo acima citado, foram entrevistadas mulheres afrodescendentes que conquistaram sucesso na vida escolar, acadêmica e profissional, superando preconceitos e discriminações. São emocionantes os depoimentos ao mesmo tempo são importantes para as gerações mais jovens que, na contemporaneidade, também enfrentam discriminações raciais. Embora as entrevistadas não tenham a intenção de serem ícones, são exemplos de vitória numa sociedade marcadamente racista e sexista.
As afrodescendentes entrevistadas trazem em comum a dedicação aos estudos como meio eficaz para superarem barreiras. Este dado pode ser usado como justificativas para a ala contrária às cotas para o ingresso de afrodescendentes nas universidades. Por outro lado, diametralmente oposto, lança luz sobre o mesmo tema, pois ainda os afrodescendentes são minoria nos espaços acadêmicos, seja como graduand@, mestrand@, doutorand@ e professor@ universitári@. Dados do IBGE (PNAM, 2008) demonstram a presença rarefeita dos afrodescendentes nos espaços acadêmicos, apresentando proporção de 20,8% para brancos e 7,7% para pretos e pardos entre estudantes de 18 a 25 anos frequentando Ensino Superior.  No tocante a conclusão dos cursos universitários os números baixam ainda mais, 14,3% para brancos e 4,7% para pretos e pardos.
Outro aspecto comum entre as entrevistas foram as situações de discriminação enfrentadas ao longo das suas trajetórias de vida. Foram impedidas de participar de festividades promovidas pelas escolas que frequentaram; às vezes sem explicação; outras vezes era dito que era por serem negras. Também citaram situações em que foram e ainda são confundidas com empregadas domésticas. Este fato demonstra a concepção preconceituosa sobre a mulher negra, concebida como alguém sem escolaridade e, por isso, vista como trabalhadora de baixa qualificação profissional. Neste sentido, merece um adendo às empregadas domésticas que têm se organizado para o fortalecimento da categoria, buscando espaço político e investindo na qualificação das profissionais.  Esta realidade denota que, para a sociedade brasileira, alcançar boa qualificação acadêmica e ser profissional de qualidade não são atributos para afrodescendentes. Para as mulheres entrevistadas, o racismo ainda persiste mesmo tendo conquistado sucesso acadêmico e profissional.
Ao longo dos anos as mulheres têm conquistado espaços inusitados na sociedade brasileira e mundial, ocupando lugares antes concebidos como específicos para os homens. No entanto, mesmo constatando-se a capacidade feminina, os preconceitos ainda prevalecem; as concepções sobre o papel feminino ainda o condiciona a coadjuvante na superação dos entraves da convivência e na busca de solução para problemas seculares.
As mulheres foram à luta ultrapassando os limites impostos e foram mostrando para si mesmas sua condição de colocar suas capacidades em movimento, gerando mudanças no comportamento e, consequentemente, já não se limitando às fronteiras antigas. Do mesmo modo, as afrodescendentes vêm conquistando seu espaço e abrindo perspectivas para novo modo de ser e de se por no mundo.

Irmã Elizete Dias da Silva
Religiosa da Congregação das Irmãs Servas da Sagrada Família, Psicóloga pela UFBA, Mestranda em Educação pela UFPI.

domingo, 3 de abril de 2011

Mulher afrodescendente: trajetória de êxito e sucesso

Ir. Elizete Dias da Silva

Você acha que lugar de mulher é na cozinha? Lugar das afrodescendentes é cuidar da casa da mulher branca? Caso afirmativo, você precisa urgentemente mudar seus referenciais. 
O Século XXI chegou marcado pela agitação dos muitos compromissos e contínua sensação de estar atrasado sem tempo, puro stress! Neste contexto a vida de muitas mulheres se desdobra entre ser mãe, profissional, mulher. Elas acalentam sonhos que ultrapassam sua “fragilidade” para ganhar visibilidade nas conquistas diárias, revelando fortaleza, inteligência, feminilidade, competência, proatividade. Assim se faz caminho que se abre para a posteridade, pois o exemplo feminino derruba preconceitos seculares e contraria as previsões pessimistas. Refletir sobre esta temática parece lugar comum; entretanto, há uma realidade que não se costuma falar: a realidade da mulher afrodescendente.
Passados mais de cento e vinte anos da abolição da escravidão no Brasil (1888), ainda há inúmeros episódios de racismo veiculados pelos Meios de Comunicação Social. É, racismo no Brasil! Não venha dizer que somos uma democracia racial, porque os fatos e a situação econômica de milhões de afrodescendentes desmascaram o perverso racismo brasileiro e, tratando-se da mulher afrodescendente, a discriminação se avoluma: mulher, negra e, se for pobre, forma uma mistura explosiva na “redondeza quadrada” da mente de quem se julga superior por ter pele clara!
Não se concebe em pleno século XXI que uma visão míope (desculpem-me os míopes) acredite na falácia da superioridade racial! Entretanto, transcorridos tanto tempo, há quem se deixa enganar por esse raciocínio medíocre. A ciência biológica afirma não existir  raças entre os humanos. Pesquisas afirmam a África como o “berço da humanidade”; no entanto, a sociedade persiste e insiste na classificação a partir da cor da pele. Ó, quanta insensatez!
O grupo de pesquisa da UFPI, do Centro de Ciências da Educação, sob a orientação do pesquisador professor doutor Francis Musa Boakari, constituído por alunas da graduação em Pedagogia e por mestrandas em Educação, Elizete Dias da Silva e Francilene Brito da Silva desenvolve a pesquisa Estórias de brasileiras afrodescendentes de sucesso: diferenciações intergeracionais de raça e gênero na educação. “O propósito básico deste estudo é determinar, aprofundando a compreensão das experiências e estratégias que as mulheres afrodescendentes de gerações diferentes usam para superar as discriminações raciais e de gênero presentes nas suas vidas cotidiana e sócio educacional e também, desvelar se as políticas que objetivam amenizar e remover as desigualdades sociais baseadas na raça e no gênero estão de fato, tendo os efeitos desejados na vida da população negra”. (Objetivo geral do Projeto)
Nossa pesquisa tem relevância científica e social por tratar de tema silenciado na nossa sociedade e quer contribuir para a reflexão e superação do racismo no Brasil. Para realizar o objetivo acima citado, foram entrevistadas mulheres afrodescendentes que conquistaram sucesso na vida escolar, acadêmica e profissional, superando preconceitos e discriminações. São emocionantes os depoimentos ao mesmo tempo são importantes para as gerações mais jovens que, na contemporaneidade, também enfrentam discriminações raciais. Embora as entrevistadas não tenham a intenção de serem ícones, são exemplos de vitória numa sociedade marcadamente racista e sexista.
As afrodescendentes entrevistadas trazem em comum a dedicação aos estudos como meio eficaz para superarem barreiras. Este dado pode ser usado como justificativas para a ala contrária às cotas para o ingresso de afrodescendentes nas universidades. Por outro lado, diametralmente oposto, lança luz sobre o mesmo tema, pois ainda os afrodescendentes são minoria nos espaços acadêmicos, seja como graduand@, mestrand@, doutorand@ e professor@ universitári@. Dados do IBGE (PNAM, 2008) demonstram a presença rarefeita dos afrodescendentes nos espaços acadêmicos, apresentando proporção de 20,8% para brancos e 7,7% para pretos e pardos entre estudantes de 18 a 25 anos frequentando Ensino Superior.  No tocante a conclusão dos cursos universitários os números baixam ainda mais, 14,3% para brancos e 4,7% para pretos e pardos.
Outro aspecto comum entre as entrevistas foram as situações de discriminação enfrentadas ao longo das suas trajetórias de vida. Foram impedidas de participar de festividades promovidas pelas escolas que frequentaram; às vezes sem explicação; outras vezes era dito que era por serem negras. Também citaram situações em que foram e ainda são confundidas com empregadas domésticas. Este fato demonstra a concepção preconceituosa sobre a mulher negra, concebida como alguém sem escolaridade e, por isso, vista como trabalhadora de baixa qualificação profissional. Neste sentido, merece um adendo às empregadas domésticas que têm se organizado para o fortalecimento da categoria, buscando espaço político e investindo na qualificação das profissionais.  Esta realidade denota que, para a sociedade brasileira, alcançar boa qualificação acadêmica e ser profissional de qualidade não são atributos para afrodescendentes. Para as mulheres entrevistadas, o racismo ainda persiste mesmo tendo conquistado sucesso acadêmico e profissional.
Ao longo dos anos as mulheres têm conquistado espaços inusitados na sociedade brasileira e mundial, ocupando lugares antes concebidos como específicos para os homens. No entanto, mesmo constatando-se a capacidade feminina, os preconceitos ainda prevalecem; as concepções sobre o papel feminino ainda o condiciona a coadjuvante na superação dos entraves da convivência e na busca de solução para problemas seculares.
As mulheres foram à luta ultrapassando os limites impostos e foram mostrando para si mesmas sua condição de colocar suas capacidades em movimento, gerando mudanças no comportamento e, consequentemente, já não se limitando às fronteiras antigas. Do mesmo modo, as afrodescendentes vêm conquistando seu espaço e abrindo perspectivas para novo modo de ser e de se por no mundo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A DESIGUALDADE NO BRASIL TEM SEXO E COR

Elizete Dias da Silva

(Mestranda em Educação UFPI)



Cicatrizes de Leslie Amaral



O Brasil é conhecido pela sua vasta riqueza natural. Mas também sua injusta distribuição de renda. Poucos têm mais recursos e oportunidades que a imensa maioria pobre da população. Esta realidade também se aplica ao estado do Piauí.
As mulheres negras são vítimas de tripla discriminação: por ser mulher, negra e pobre. Nossa sociedade patriarcal, sexista elegeu o homem branco, heterossexual como padrão. Em decorrência de tal escolha, a sociedade olha com reserva famílias cujo comando seja da mulher. A mulher tem seus ganhos salariais reduzidos se comparados com os salários dos homens. Caso esta mulher seja negra, a discriminação se avoluma, porque além de ser mulher pertence a um contingente que historicamente é marginalizado e discriminado pela cor. Os negros são pobres.
O Piauí não tem oficialmente presença de nações indígenas, embora haja na sua população traços fisionômicos marcantes de descendência indígena. Sabemos da existência dessas nações no passado e do seu extermínio em decorrência da invasão de outros povos às terras piauienses. Indígenas e negros, na nossa história, tiveram o mesmo tratamento. Vejamos a carta de Esperança Garcia.
A CARTA

"Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal.
A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei.
A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar.
Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”

(Disponível em: <http://www.fnt.org.br/reportagens.php>.  Acessado em 02/11/2010.)

Na época da escravidão oficial no Brasil, no Piauí houve um fato que até pouco tempo não se tinha notícia: uma escrava alfabetizada escreveu uma carta denunciando os maus tratos que sofria por parte de um administrador da fazenda em que ela morava. Não sabemos o desdobramento da denúncia, mas o fato chama atenção. Uma escrava alfabetizada! Mulher e escrava; vítima de maus tratos; denuncia a situação de sofrimento. Estes dados relembram a condição de muitas mulheres no Piauí e no Brasil. Todavia, sua atitude de escrever denota uma conquista valorosa em se tratando do tempo da escravidão. Usou o conhecimento para denunciar a situação em que ela estava submetida junto com outras “parceiras”, como também o não cumprimento do administrador em providenciar o sacerdote para batizar as crianças e escutar as confissões dos escravos. Esperança Garcia não tem o rosto conhecido, não sabemos como eram seus traços físicos, mas não deveriam ser diferentes de tantos rostos de mulheres negras, piauienses.
Temos um exemplo histórico de protagonismo feminino no Piauí. Certamente, há outros tantos protagonismos de mulheres que ficaram e ficam no anonimato. A partir dos textos estudados e do exemplo de Esperança Garcia, propomos a seguinte atividade:

Faça uma enquete sobre a mulher na condição de comando nas mais diversas situações.
As respostas recolhidas confirmam ou não o pensamento antigo de que as mulheres não servem para comandar? Por quê? 



REFERÊNCIAS 


Disponível em: <http://www.fnt.org.br/reportagens.php>. acesso em: 02 nov. 2010.
Disponível em:  < http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_1903.html>. Acesso em 02 nov. 2010.
Disponível em: <http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/05/%E2%80%9Ccicatrizes%E2%80%9D-africa-marcada-no-mube%E2%80%9Ccicatrizes%E2%80%9D-africa-marcada-no-mube/>. Acessado em 21 fev. 2011.

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