Dados do PNAD/IBGE (2005), indicam que o segmento da população nacional que se reconhece como negro, de descendência predominantemente africana, é de quase 50%. Entretanto, membros deste grupo continuam sendo os mais excluídos no Brasil. Esta situação torna-se mais complexa para entender e trabalhar por uma transformação por causa da filosofia de “democracia racial”; as discriminações não existem, e se acontecerem, são baseadas mais em fatores sociais que étnico-raciais. Tal visão da sociedade, contrário ao discurso histórico, persiste em reproduzir idéias que fazem com que o fator racial, não recebe a atenção que este historicamente requeria (BOAKARI, 2003; BRASIL, 1996; 1997; 2002; 2004; 2005; BRZEZINSKI, 2008; GOMES, 2005; MUNANGA, 2005; SKIDMORE, 1999).
Sexismo no Brasil é uma questão que deixa perplexos muitos dos responsáveis pela elaboração das políticas públicas. Até feministas têm dificuldades em fazer com que muitas mulheres acreditem que os colegas homens, elas discriminam por causa do que são, mulheres. Quando são afrodescendentes, sofrem mais discriminações ainda. Para Caldwell (2001), muitos estudiosos “apresentam as mulheres brasileiras em termos monolíticos e fracassam em apresentar o significado de raça nas vidas tanto de mulheres negras como brancas na sociedade brasileira. A falta de pesquisa integrada sobre raça e gênero tem significado que as experiências de vida de mulheres afro brasileiras raramente tem sido examinada ou explorada” (p. 221). Mulheres, descendentes de africanos, sofrem discriminações tanto racial como sexual... e também, de classe quando são pobres, como é a maioria delas (AUAD, 2006; BOAKARI, 2007; BOURDIEU, 1984; HASENBALG & DO VALLE SILVA, 1999; LOVELL, 1991).
Apesar de leis e orientações legais como a Constituição de 1988, proibindo quaisquer tipos de discriminação baseado no gênero, muitas mulheres brasileiras precisam resolver diversas dificuldades sócio-educacionais no seu cotidiano. No campo educacional, quando conseguem êxito escolar, enfrentam outras barreiras muito mais escrutinizadoras do que para os homens. Quando for uma mulher de descendência africana, em contraste à mulher de origem européia, tem que enfrentar e superar desafios bem maiores (CALDWELL, 2001; HARRIS, 1995). Estudos focalizando as barreiras sociais que estas mulheres têm que ultrapassar têm enfatizado fatores negativos e suas deficiências, não as conquistas como sujeitos criativos e resilientes (AAUW, 1992; IBGE, 2001; LIMA, 1995; LUZ, 1982). Estudos em resiliência demonstram que dificuldades sociais são superadas com inteligência, perspicácia, trabalho e alguma ajuda externa (O’CONNOR, 2002). Elementos comparáveis têm sido encontrados como responsáveis pelo sucesso dos afrodescendentes como estudantes e/ou profissionais tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil (FORDHAM, 1993; GOMES, 2005; MUNANGA, 2005). Um sistema de cotas baseado na origem racial tem sido implementado na admissão de algumas universidades públicas. Esta questão ainda não foi fechada. Entretanto, tal medida poderia ser considerada tentativa de enorme progresso (PEREIRA,2009). As repercussões mostrariam que o país está amadurecendo na sua luta em desenvolver uma sociedade menos desigualitária (BERNARDINO & GALDINO, 2004; FERES JR. & ZONINZEIN, 2006; CUNHA JR., 2005; GOMES & MARTINS, 2004).
O’CONNOR (2002) observou que mulheres norte americanas afro-descendentes deparavam com as mesmas barreiras, mas a maneira que estes desafios sociais manifestavam-se e tinham que serem combatidos eram de formas diferentes de uma geração e para outra. As mulheres em questão utilizavam instrumentos sociais diferentes para superar as discriminações históricas. Racismo e sexismo, como mecanismos de exclusão não mudaram essencialmente de um período para outro, mas estes mesmos eram evidenciados e trabalhados de formas variadas.
Considerando alguns “acontecimentos” recentes no Brasil, as experiências de mulheres afro-descendendes no campo da educação podem ser examinadas com a expectativa de que o seu desempenho seria afetado de modo positivo, tornando-se menos difícil alcançar o sucesso merecido. Assim, a pesquisa volta a questões do tipo: Quais as experiências de mulheres afrodescendentes como estudantes e profissionais? As mudanças sociais teriam influenciadas as estrategias usadas nas lutas no seu cotidiano numa sociedade de diversidades e diferenciações? Ao mesmo tempo, como se caracterizaam as experiências educacionais de mulheres negras de gerações diferentes? Quais as características das trajetórias de grupos de mulheres negras de várias faixas de idade? Em relação às Leis 10.639/03 e 11.645/08, quais as implicações das experiências dessas mulheres?
As questões básicas estão voltadas aos mecanismos e práticas que as mulheres em geral, e em particular, as afrodescendentes na sociedade brasileira usam para enfrentar as suas marginalização e exclusão. É de muita valia saber se estas cidadãs brasileiras, estão usufruindo de modificações positivas nos seus embates sociais e escolares por causa das novas medidas oficiais; as políticas públicas.
Francis Musa Boakari
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