segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A DESIGUALDADE NO BRASIL TEM SEXO E COR

Elizete Dias da Silva

(Mestranda em Educação UFPI)



Cicatrizes de Leslie Amaral



O Brasil é conhecido pela sua vasta riqueza natural. Mas também sua injusta distribuição de renda. Poucos têm mais recursos e oportunidades que a imensa maioria pobre da população. Esta realidade também se aplica ao estado do Piauí.
As mulheres negras são vítimas de tripla discriminação: por ser mulher, negra e pobre. Nossa sociedade patriarcal, sexista elegeu o homem branco, heterossexual como padrão. Em decorrência de tal escolha, a sociedade olha com reserva famílias cujo comando seja da mulher. A mulher tem seus ganhos salariais reduzidos se comparados com os salários dos homens. Caso esta mulher seja negra, a discriminação se avoluma, porque além de ser mulher pertence a um contingente que historicamente é marginalizado e discriminado pela cor. Os negros são pobres.
O Piauí não tem oficialmente presença de nações indígenas, embora haja na sua população traços fisionômicos marcantes de descendência indígena. Sabemos da existência dessas nações no passado e do seu extermínio em decorrência da invasão de outros povos às terras piauienses. Indígenas e negros, na nossa história, tiveram o mesmo tratamento. Vejamos a carta de Esperança Garcia.
A CARTA

"Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal.
A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei.
A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar.
Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”

(Disponível em: <http://www.fnt.org.br/reportagens.php>.  Acessado em 02/11/2010.)

Na época da escravidão oficial no Brasil, no Piauí houve um fato que até pouco tempo não se tinha notícia: uma escrava alfabetizada escreveu uma carta denunciando os maus tratos que sofria por parte de um administrador da fazenda em que ela morava. Não sabemos o desdobramento da denúncia, mas o fato chama atenção. Uma escrava alfabetizada! Mulher e escrava; vítima de maus tratos; denuncia a situação de sofrimento. Estes dados relembram a condição de muitas mulheres no Piauí e no Brasil. Todavia, sua atitude de escrever denota uma conquista valorosa em se tratando do tempo da escravidão. Usou o conhecimento para denunciar a situação em que ela estava submetida junto com outras “parceiras”, como também o não cumprimento do administrador em providenciar o sacerdote para batizar as crianças e escutar as confissões dos escravos. Esperança Garcia não tem o rosto conhecido, não sabemos como eram seus traços físicos, mas não deveriam ser diferentes de tantos rostos de mulheres negras, piauienses.
Temos um exemplo histórico de protagonismo feminino no Piauí. Certamente, há outros tantos protagonismos de mulheres que ficaram e ficam no anonimato. A partir dos textos estudados e do exemplo de Esperança Garcia, propomos a seguinte atividade:

Faça uma enquete sobre a mulher na condição de comando nas mais diversas situações.
As respostas recolhidas confirmam ou não o pensamento antigo de que as mulheres não servem para comandar? Por quê? 



REFERÊNCIAS 


Disponível em: <http://www.fnt.org.br/reportagens.php>. acesso em: 02 nov. 2010.
Disponível em:  < http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_1903.html>. Acesso em 02 nov. 2010.
Disponível em: <http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/05/%E2%80%9Ccicatrizes%E2%80%9D-africa-marcada-no-mube%E2%80%9Ccicatrizes%E2%80%9D-africa-marcada-no-mube/>. Acessado em 21 fev. 2011.

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