segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SIS 2010: Mulheres mais escolarizadas são mães mais tarde e têm menos filhos

Fecundidade varia com escolaridade, cor ou raça e região de residência das mulheres
Em 2009, a taxa de fecundidade total (número médio de filhos que uma mulher teria ao final do seu período fértil) foi de 1,94. Esse valor resulta de um declínio da fecundidade na sociedade brasileira, nas últimas décadas. Rio de Janeiro (1,63) e Minas Gerais (1,67) tinham em 2009 as menores taxas; Acre (2,96) e Amapá (2,87), as maiores. Este declínio da fecundidade vem ocorrendo nas últimas décadas em todas as regiões e em todos os grupos sociais, independentemente da renda, cor e nível.
A escolaridade é um dos condicionantes do comportamento da fecundidade feminina. Para o país como um todo, as mulheres com até 7 anos de estudo tinham, em média, 3,19 filhos, enquanto o número de filhos das mulheres com 8 anos ou mais de estudo era 1,68. Comparando os valores regionais extremos, a distância que separa a fecundidade das mulheres menos instruídas da região Norte (3,61) daquelas que possuem mais escolaridade no Sudeste (1,60) era de 2,01 filhos.
Entre as mulheres com menos de 7 anos de estudo, o grupo de 20 a 24 anos de idade concentrava, em 2009, 37% da fecundidade total, e o de 15 a 19 anos, 20,3%. Já entre as mulheres com 8 anos ou mais de estudo, os grupos etários de 20 a 24 anos (25,0%) e de 25 a 29 anos (24,8%) concentravam, juntos, quase metade da fecundidade, e o grupo entre 15 e 19 anos concentrava 13,3%. Entre as mulheres com menor grau de instrução o padrão de fecundidade tende a ser mais jovem. Como resultado, a idade média com que as mulheres têm filhos também se diferenciava pela instrução: entre aquelas com menos de 7 anos de estudo, a média era de 25,2 anos. Entre as que tinham 8 anos ou mais de escolaridade, a idade média era 27,8, uma diferença de 2,6 anos.
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1717&id_pagina=1
acesso em: 26/09/2010.

Roda Griô Mulher Afrodescendente: debates sobre raça, gênero e Educação

“As mulheres têm lutado bastante por respeito e igualdade entre os sexos e já conquistaram vários direitos, mas ainda sofrem preconceito; muitas vezes, principalmente se forem negras, não são reconhecidas devidamente pela sociedade tendo que mostrar suas capacidades todos os dias.” (Thaysy Luanna R. Sousa).

Desta forma, existe número crescente de mulheres que vem galgando sucesso, superando estatísticas educacionais, por exemplo.  Esta conquista é importante não só como vitória pessoal, mas pelo fato de trazer para o debate as políticas públicas de ações afirmativas e as condições para se pensar uma sociedade em que a dignidade e a cidadania sejam respeitadas. 

Sobre as conquistas e também sobre   os   desafios do caminho a ser construído, o Grupo de estudo “Estórias de brasileiras afrodescendentes de sucesso: diferenciações inter-geracionais de raça e gênero na Educação”, promoveu nos dias 18 e 19 de novembro de 2010, o evento “Roda Griô Mulher Afrodescendente: debates sobre raça, gênero e educação”.
Os objetivos do evento foram:
· Promover debate sobre a realidade da mulher afrodescendente;
· Tornar conhecido o Grupo e socializar o trabalho que vem sendo desenvolvido sobre a mulher afrodescendente;
· Provocar debate sobre o dia da Consciência Negra como Consciência Brasileira.

A Programação foi a seguinte:
DIA 18/11/2010
08h-10h   Sala de Vídeo/CCE
Inscrição e Abertura
Prof. Dr. José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
“Consciência Negra/Consciência Brasileira?”—Prof. Francis Musa Boakari (Pós-Ph.D., DEFE, CCE/UFPI)
10h-12h   Sala de Vídeo/CCE
“Experiências educacionais de mulher brasileira afrodescendente”—Vereadora Maria do Rosário de Fátima Biserra Rodrigues.
14h-16h (exibição de filmes)
Auditório—CCE
“Mojubá (sobre afrodescendência) - Francilene Brito da Silva
Sala de Vídeo—CCE
“Nota 10” (sobre afrodescendência e escola) - Vicelma Maria de Paula Barbosa Sousa e Wladimy Lima Silva
16h-18h  Auditório—CCE
Mesa Redonda: “Brasileiras afrodescendentes: conversa sobre conquistas e desafios”—Profa. Francisca do Nascimento Sousa (Mestra/UFPI)
Jascira da Silva Lima (Mestra/UFCG)
Coordenadora: Ir. Elizete Dias da Silva (Psicóloga/ UFBA, Mestranda/UFPI) 
DIA  19/11/2010
08h-10h   Auditório—CCE
Roda Griô “Pesquisa sobre Estórias de brasileiras afrodescendentes”— Pesquisadoras do CCE:
Maura Talita Araújo de Sousa,
Ruhama Marisbela Aguiar Alves,
Thaysy Luanna Rocha Sousa,
Iana Mara Bento de Sousa,
Coordenador: Prof. Francis Musa Boakari
10h-12h   Auditório—CCE
“A mulher e sua inserção sócio-político no Piaui”— Pesquisadora: Maria Hortência Mendes de Sousa
14h-16h  (exibição de filmes)
Auditório—CCE
“Kiriku e a Feiticeira” - longa de Michel Ocelot—Francilene Brito da Silva e Valdenia Pinto de Sampaio Araújo
16h-18h   Auditório—CCE
“Professora, Doutora em Educação, pesquisadora e negra”—Profa. Ana Beatriz Sousa Gomes (Doutora/UFC)
18:30h Encerramento—Beira Mar Capoeira

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tópicos da Reunião - dia 13/09/2010

1. Já fizemos uma Pesquisa Exploratória: foram entrevistadas mulheres com o perfil datado dos anos 90 em diante, mas os dados sobre os períodos e os níveis de escolarização estão todos misturados;
2. Seria melhor, agora, fazermos entrevistas e análises visando os níveis de escolarização nos períodos de 1990 aos dias atuais;
3. Os dados mais antigos não foram lembrados pelas entrevistadas. Isso nos reporta para algumas indagações: "o não dito" significa o quê? Elas não querem lembrar? Não querem falar? Não o quê???? Qual ou quais os esforços que estamos fazendo para adquirir os dados relevantes entre os anos 60-80, 80-90 e 90 aos dias atuais?
4. Estratégias a serem utilizadas agora:
Ler os relatórios das entrevistas;
Ler textos da bibliografia para interpretação desses relatos;
Entrevistar as sujeitas focalizando os 1°. 2° e 3° níveis do ensino a partir dos anos 90;
Procurar dados oficiais (do PNAD/IBGE, DIEESE,INEP,CAPES,FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS,IPEA,CÁRITAS,FLORA ISABEL, ROSÁRIO BEZERRA, ETC.)
5. Taise ficou responsável para procurar informações sobre o XVIII Seminário de Iniciação Científica da UFPI;
6. Francilene ficou de organizar o blog.
Teresina 14/09/2010.

CALENDÁRIO DAS REUNIÕES e REGISTRO DA REUNIÃO DO DIA 06/09/2010

DATA MEDIADORA/OR

06/09 PROF. FRANCIS

13/09 ILEANA

20/09 ELIZETE

27/09 MEIRE MICHELE

04/10 MAURA

11/10 RUHAMA

18/10 IANA

25/10 FRANCILENE

01/11 PROF. FRANCIS

08/11 ILEANA

22/11 ELIZETE

29/11 MEIRE MICHELE



REUNIÃO
No dia 06/09/2010 nos reunimos na sala 419 da UFPI: Prof. Francis, Ileana, Elizete, Meire Michele, Maura, Ruhama, Iana e Francilene. No início todas se apresentaram, a partir de questões escritas no quadro pelo professor: quem sou eu? Por que estou aqui? Pretensões para o segundo semestre de 2010. Após as apresentações, o professor Francis fez algumas considerações: espera que as mestrandas ajudem na comunicação para compreender e entender melhor a pesquisa. “Fazer perguntas ajuda mais que dar respostas. É importante ter um objetivo. No que diz respeito a quem se é o importante é ter controle do que você é”.
Firmamos o dia e horário para as nossas futuras reuniões: nas segundas-feiras, às 18h30min. A Elizete fez o calendário, contendo o dia e o nome da mediadora, que fará o registro do encontro; o calendário foi enviado para todos os membros, como também o registro deste encontro. Para o dia 13/09 ficou certo que faremos a leitura do Projeto PIBIC.
O professor Francis falou que o pessoal da graduação deverá comunicar o horário de estudo para estabelecer uma sistemática de como prever o programa de iniciação científica.
As reuniões acontecerão a partir de leitura de texto, debate, conteúdo das entrevistas realizadas, aplicação das leituras sobre o que foi colhido nas entrevistas e vice e versa. Buscaremos a partir dos relatórios do pessoal da graduação novas possibilidades. As mestrandas irão ajudar na elaboração de outras perguntas. Também se trabalhará com as leituras citadas no Projeto. As entrevistas foram feitas com pessoas que estão na Universidade; é importante também entrevistar pessoas que já saíram da universidade e pessoas de diferentes cursos.
Teresina, 06 de setembro de 2010.
Por Ir. Elizete Dias da Silva

Núcleos de Pesquisa

O projeto está relacionado aos - Núcleo de Estudos e Pesquisas – EDUCAÇÃO, GÊNERO E CIDADANIA (NEPEGECE) do CCE, e IFARADÁ – Grupo de Estudos da Afrodescendência e das Africanidades, localizado no CCHL. São cadastrados no CNPq, e através de seus integrantes, em tempos recentes, têm desenvolvido as atividades mencionadas abaixo:
01. NEPEGECE - Manutenção do Observatório das Juventudes e Violência na Escola – um espaço para estudos, discussions, debates e orientações de alunas(os);
02. NEPEGECE - Desenvolvimento de pesquisas e estudos, como também, organização de seminários sobre juventudes, violências e cultura de paz nas escolares.

RISCOS E DIFICULDADES

Pela natureza do estudo, a metodologia proposta e as pessoas a serem envolvidas, acredito que há um limitado número de riscos e dificuldades. Entretanto, quando um pesquisador está tratando de outras pessoas, outros agentes sociais, é sempre aconselhável se preparar para situações previsitas. Neste sentido, o maior risco previsto é que as entrevistas levem as participantes a lembrarem de experiências negativas, situação que poderia lhes causar incomodo psicológico. Se isto vier a acontecer, acredito que com muito cuidado e carinho, lembranças emocionalmente perturbadoras, poderiam ser prevenidas ou trabalhadas ou controladas pelo pesquisador e a entrevistada através de uma conversa aberta. Se esta medida não ajudar, a assistência de um outro profissional seria recomendada.

Um outro risco consistiria na “fabricação de estórias” por uma entrevistada a fim de se fazer passar por uma outra pessoa. Em relação à uma tentativa de contribuir narrativas fictícias, as entrevistas focalizadas ajudariam detectar tais tramas, e assim, ajudar eliminar tais estórias; “contos de fada” que contaminariam a confiabilidade das informações se deixadas para fazer parte dos dados a serem analisados e interpretados.
Um terceiro risco neste estudo envolveria o chamado síndrome “da perda de voz dos participantes numa pesquisa qualitativa”. Esta situação acontece quando o pesquisador relata as informações que ele quer relatar para levar os dados a confirmar as suas hipóteses, e assim, excluindo as informações e evidências fornecidas por uma pessoa que foi entrevistada. A melhor maneira de controlar este risco é através de auto-controle, ficando consciente de que a investigação envolve as mulheres sujeitos, e não o pesquisador, muito menos as bolsistas. Este risco também, será controlado através da checagem das informações por cada participante na fase da organização e análise dos dados. Desenvolvimento das atividades de pesquisa em grupo, envolvendo docente e discentes pesquisadores, também, está ajudando proteger o projeto do citado perigo científico.
Em termos das possíveis dificuldades, estou ciente de dois problemas que poderiam ainda, comprometer o estudo de modo significativo. O primeiro diz respeito à demora no recrutamento de participantes com informações mais relevantes para melhor entender o problema desta pesquisa. Esta situação está sendo influenciada pela natureza do estudo que envolve mulheres afrodescendentes de pelo menos trêgerações diferentes. Apesar de ser uma barreira que está dificultando um desenvolvimento dos trabalhos de acordo com o cronograma pensado, gradativamente, participantes mais relevantes para a pesquisa estão sendo encontradas. Com a participação continuada das bolsistas e outros assistentes de pesquisa, os efeitos negativos desta situação estão sendo controlados.
Uma dificuldade prevista envolve o não-cumprimento adequado do cronograma do projeto. No tocante a tal possibilidade, além de contemplar esta possibilidade na programação prática do estudo, se e quando for necessário, o calendário de atividades da pesquisa será modificado a fim de fazer com que o mesmo ajude em fazer o estudo mais exequível. Outras adaptações serão acomodadas quando necessário, especialmente quanto às participações de um contingente significativo de mulheres afrodescendentes que poderiam fornecer informações relevantes para a questão central do estudo.
Finalmente, para garantir a natureza voluntária da participação das mulheres, cada uma solicitada a ser entrevistada, receberá todos os esclarecimentos sobre o projeto. Receberá, também, para maiores esclarecimentos, o informativo, TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO e uma ficha (Anexo B), a ser assinada e arquivada pela equipe.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

Os desafios encontrados pelos grupos sub-representados nas suas interações com as instituições continuam enormes. A natureza complexa destas instâncias e agências sociais, os indivíduos que as fazem funcionar, o interesse dos grupos (elites e dominantes) que elas representam e as recompensas em jogo somente adicionam mais elementos complexos no que diz respeito às tentativas de resiliência; esforços para superar as barreiras sociais de modo consistente é também complexa e multi-facetada. Como consequência, nenhuma investigação nos dará todas as informações que necessitamos para uma boa compreensão da sociedade enquanto procuramos desenvolver estrategias eficientes para enfrentar problemas de práticas de desigualdade e discriminação.
Neste sentido, os resultados deste estudo vão ampliar e adicionar outras perspectivas às informações existentes não somente sobre as práticas discriminatórias e excludente numa sociedade como a brasileira, mas também, oferecer dicas sobre as estrategias que sujeitos sociais, como as mulheres afrodescendentes, empregam para chegar ao sucesso neste contexto sócio-histórico.
Outra importância das informações advindas do estudo é sua natureza intergeracional. Analisar questões de raça e gênero numa abordagem histórica como está sendo proposta aqui, poderá trazer mais esclarecimentos sobre estes problemas. As mudanças que têm acontecidas poderiam ser colocadas no quadro geral do progresso democrático do país. Da mesma forma, os discursos de transformações que não mudam nada, ou somente trazem poucas modificações significativas, serão descobertos. Neste mesmo sentido, os resultados do estudo em questão poderiam demonstrar a maneira como as pessoas, especialmente as vítimas das discriminações, entendem e tratam alguns dos problemas que enfrentam ao tratar com as instituições e alguns indivíduos significantes do seu cotidiano.
Pesquisadores do campo de estudos sobre raça e gênero serão enriquecidos pelas experiências disseminadas depois da pesquisa. Um maior entendimento de como as mudanças históricas e políticas influenciam os fatores sociais será possível. Outras dimensões da investigação serão muito importantes porque estas buscas normalmente produzem informações úteis para pesquisas em diversos campos.
Considerando que o estudo é um dos poucos nesta área, focalizando interações entre diversos elementos, particularmente raça e gênero, possibilitará outras pesquisas da mesma linha. Ao mesmo tempo, a realização desta investigação poderia servir de base para estudos semelhantes com até mais formas criativas de analisar as questões de raça e gênero neste diversificado mundo globalizado de hoje. Como os fatores de raça e gênero interagem numa sociedade multi-racial precisa ser mais pesquisada por causa dos constantes discursos de modernização e democratização acontecendo no Brasil. Esta pesquisa é tentativa nesta direção de realizar estudos que potencializam o desenvolvimento contínuo de cidadãs e cidadãos brasileiras(os) por causa de suas repercussões sociais.
Este projeto e os resultados sendo colhidos servem de incentivo-base para tratar, não somente das questões em relação às “Cotas para a População Negra”, mas também, da implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 referentes à incorporação do ensino das Histórias Africana e Culturas Afro-Brasileira e Indígena. As implicações históricas e contemporâneas destes fatores novos no tratamento dos afrodescendentes e das diversidades no Brasil parecem apontar caminhos para um outro país.
De um modo sucinto, este estudo (resultados e conclusões) vai fazer contribuições valiósas em fornecer informações relevantes para elaboração-desenvolvimento de políticas públicas que atendam às reais necessidades do povo; políticas e práticas que visem atender aos anseios das mais marginalizadas da sociedade brasileira; os impactos sociais chegando às mais excluídas. No campo da educação escolar, esta investigação fornece não somente informações importantes para desenvolvimento de currículos que atendam a população brasileira, mas acima de tudo, apoiar em fazer a educação escolar que o país realmente precisa para este século XXI; os impactos acadêmicos. Seguindo esta mesma linha de pensamento, a escola brasileira que realmente representa e incorpora a essência da diversidade brasileira, teria melhores condições para ajudar na educação de suas cidadãs e de seus cidadãos quem assim, participariam significativamente nas vidas sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil.

Metodologia da Pesquisa

Um modelo de estudo de caso etnográfico está sendo utilizado neste estudo. Este está provendo dados ricos de como as mulheres brasileiras de origem africana vêem suas oportunidades e desafios educacionais. Acredita-se que suas perspectivas e opiniões, as quais influenciam o sentido dado a estas situações, determinam as estratégias empregadas para obter o sucesso desejado. Como um estudo qualitativo, com características predominantemente exploratórias pela natureza complexa dos sujeitos sociais, estão sendo coletadas informações que servirão de base para análises mais detalhadas tanto sobre configurações intergeracionais de racismo e da situação de mulheres de origem africana em geral.
Por causa das questões postas, a abordagem qualitativa daria mais possibilidades para coletar os dados mais adequados e empregar as técnicas de análise de dados mais adequadas para conseguir compreender a sociedade brasileira cada vez um pouco mais. No caso atual, informações de mulheres que compõem as mais sub-representadas da sociedade brasileira, oferecerão as pistas mais esclarecedoras sobre o funcionamento desta mesma. A pesquisa qualitativa servirá de meio mais propício para esta finalidade por causa de sua flexibilidade que melhor suportaria questões que surgem numa investigação sobre as desigualdades sociais numa sociedade contemporânea (BOAKARI, 2010; CRESWELL, 2007; DENZIN & LINCOLN, 1998).
Pesquisas qualitativas, com raízes em movimentos de cunho fenomenológico como estudos culturais e estudos interpretativos, são basicamente tentativas de descobrir o sentido que agentes sociais atribuem ao fenômeno baseado em sua visão de mundo, seus interesses, suas experiências e os seus contextos sociais (LEEDY & ORMROD, 2005). Esta orientação é adequada para o estudo que estou propono uma vez que vou depender de entrevistas, observações, documentos históricos e análise-interpretação de respostas de mulheres brasileiras afrodescendentes sobre o “mundo” que é delas. Para se aproximar deste mundo, estas mulheres, como sujeitos centrais, precisariam apresentar os elementos viabilizadores deste processo de compreensão da realidade da outra.
Estudos qualitativos, especialmente quando se usa dados de um número limitado de participantes, como neste presente trabalho, produz resultados que não podem ser generalizados. Entretanto, uma vez que o objetivo básico aqui é entender os fenômenos raça e gênero numa sociedade multi-racial/étnica, fatores que não foram muito pesquisados, um modelo de pesquisa qualitativa, como sugere Creswell (2007), é um que oferece mais vantagens. Ao mesmo tempo, uma pesquisa qualitativa bem desenvolvida sempre serviria de ponto de partida para outras investigações. Descrições detalhadas de como os participantes se comportam em certos contextos, sua linguagem e crenças/atitudes são necessárias nesta situação. A abordagem metodológica consiste na imersão na vida das participantes através de observações e entrevistas, estabelecendo relações com elas enquanto consciente do papel como interprete da realidade social da qual pertenço parcialmente como descendente de africanos.
Um protocolo de entrevista semi-estruturada (Anexo A) servirá de guia para as entrevistas. Serão coletados dados de cerca de 20 mulheres afrodescendentes brasileiras, recrutadas como voluntárias (Anexo B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO e ficha para ser assinada).
Atenção especial será dada às suas experiências e como diferentes fatores lhes afetaram. Mais 10 participantes serão entrevistadas num outro período a fim de melhor aprofundar as questões e discussões. Durante o período das ferias universitárias, a coleta de dados será intensificada através de entrevistas individuais e discussões de um grupo focal.
Para coletar as informações, anotações de campo e audio-gravações serão empregadas. Estas técnicas confirmarão informações coletadas e permitir melhor integração e INTEGRALIZAÇÃO dos dados. Da mesma forma, estas estratégias vão ajudar nas transcrição, organização, análise, e interpretação dos dados. Será desenvolvida uma triangulação de dados através da checagem pelas participantes, entrecruzamento das informações, reflexões críticas e discussões envolvendo bolsistas, no decorrer do estudo. (Veja cronograma de execução que pode ser modificado se necessário).
Esperamos poder contar com bolsistas de iniciação científica e mestrandas do PPGED.

Problema de Pesquisa


Dados do PNAD/IBGE (2005), indicam que o segmento da população nacional que se reconhece como negro, de descendência predominantemente africana, é de quase 50%. Entretanto, membros deste grupo continuam sendo os mais excluídos no Brasil. Esta situação torna-se mais complexa para entender e trabalhar por uma transformação por causa da filosofia de “democracia racial”; as discriminações não existem, e se acontecerem, são baseadas mais em fatores sociais que étnico-raciais. Tal visão da sociedade, contrário ao discurso histórico, persiste em reproduzir idéias que fazem com que o fator racial, não recebe a atenção que este historicamente requeria (BOAKARI, 2003; BRASIL, 1996; 1997; 2002; 2004; 2005; BRZEZINSKI, 2008; GOMES, 2005; MUNANGA, 2005; SKIDMORE, 1999).
            Sexismo no Brasil é uma questão que deixa perplexos muitos dos responsáveis pela elaboração das políticas públicas. Até feministas têm dificuldades em fazer com que muitas mulheres acreditem que os colegas homens, elas discriminam por causa do que são, mulheres. Quando são afrodescendentes, sofrem mais discriminações ainda. Para Caldwell (2001), muitos estudiosos “apresentam as mulheres brasileiras em termos monolíticos e fracassam em apresentar o significado de raça nas vidas tanto de mulheres negras como brancas na sociedade brasileira. A falta de pesquisa integrada sobre raça e gênero tem significado que as experiências de vida de mulheres afro brasileiras raramente tem sido examinada ou explorada” (p. 221). Mulheres, descendentes de africanos, sofrem discriminações tanto racial como sexual... e também, de classe quando são pobres, como é a maioria delas (AUAD, 2006; BOAKARI, 2007; BOURDIEU, 1984; HASENBALG & DO VALLE SILVA, 1999; LOVELL, 1991).
            Apesar de leis e orientações legais como a Constituição de 1988, proibindo quaisquer tipos de discriminação baseado no gênero, muitas mulheres brasileiras precisam resolver diversas dificuldades sócio-educacionais no seu cotidiano. No campo educacional, quando conseguem êxito escolar, enfrentam outras barreiras muito mais escrutinizadoras do que para os homens. Quando for uma mulher de descendência africana, em contraste à  mulher de origem européia, tem que enfrentar  e superar desafios bem maiores (CALDWELL, 2001; HARRIS, 1995). Estudos focalizando as barreiras sociais que estas mulheres têm que ultrapassar têm enfatizado fatores negativos e suas deficiências, não as conquistas como sujeitos criativos e resilientes (AAUW, 1992; IBGE, 2001; LIMA, 1995; LUZ, 1982). Estudos em resiliência demonstram que dificuldades sociais são superadas com inteligência, perspicácia, trabalho e alguma ajuda externa (O’CONNOR, 2002). Elementos comparáveis têm sido encontrados como responsáveis pelo sucesso dos afrodescendentes como estudantes e/ou profissionais tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil (FORDHAM, 1993; GOMES, 2005; MUNANGA, 2005).    Um sistema de cotas baseado na origem racial tem sido implementado na admissão de algumas universidades públicas. Esta questão ainda não foi fechada. Entretanto, tal medida poderia ser considerada tentativa de enorme progresso (PEREIRA,2009). As repercussões mostrariam que o país está amadurecendo na sua luta em desenvolver uma sociedade menos desigualitária (BERNARDINO & GALDINO, 2004; FERES JR. & ZONINZEIN, 2006; CUNHA JR., 2005; GOMES & MARTINS, 2004).
            O’CONNOR (2002) observou que mulheres norte americanas afro-descendentes deparavam com as mesmas barreiras, mas a maneira que estes desafios sociais manifestavam-se e tinham que serem combatidos eram de formas diferentes de uma geração e para outra. As mulheres em questão utilizavam instrumentos sociais diferentes para superar as discriminações históricas. Racismo e sexismo, como mecanismos de exclusão não mudaram essencialmente de um período para outro, mas estes mesmos eram evidenciados e trabalhados de formas variadas.
Considerando alguns “acontecimentos” recentes no Brasil, as experiências de mulheres afro-descendendes no campo da educação podem ser examinadas com a expectativa de que o seu desempenho seria  afetado de modo positivo, tornando-se menos difícil alcançar o sucesso merecido. Assim, a pesquisa volta a questões do tipo: Quais as experiências de mulheres afrodescendentes como estudantes e profissionais? As mudanças sociais teriam influenciadas as estrategias usadas nas lutas  no seu cotidiano numa sociedade de diversidades e diferenciações? Ao mesmo tempo, como se caracterizaam as experiências educacionais de mulheres negras de gerações diferentes? Quais as características das trajetórias de grupos de mulheres negras de várias faixas de idade? Em relação às Leis 10.639/03 e 11.645/08, quais as implicações das experiências dessas mulheres? 
As questões básicas estão voltadas aos mecanismos e práticas que as mulheres em geral, e em particular, as afrodescendentes na sociedade brasileira usam para enfrentar as suas marginalização e exclusão. É de muita valia saber se estas cidadãs brasileiras, estão usufruindo de modificações positivas nos seus embates sociais e escolares por causa das novas medidas oficiais; as políticas públicas.
Francis Musa Boakari

Projeto: Estórias de brasileiras afrodescendentes de sucesso: diferenciações inter-geracionais de raça e gênero na Educação

Olá pessoal interessado nessa temática,


É com imenso prazer que criamos este blog. Através dele vamos informar, compartilhar e dar visibilidade ao trabalho feito por graduandas do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí, vinculadas ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), com a orientação do professor Pós-Ph.D. Francis Musa Boakari, sobre "Estórias de brasileiras afrodescendentes de sucesso: diferenciações inter-geracionais de raça e gênero na Educação", como o próprio título do Projeto expõe. Como colaboradoras, integram também essa equipe de estudos, duas alunas do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) da mesma universidade.
As categorias a serem analisadas nessa pesquisa dizem respeito as discussões de gênero e raça no Brasil relacionadas com o campo da Educação. Pretendemos com isto, trazer novas perspectivas dessa problemática, que envolve desafios e estratégias enfrentadas por mulheres afrodescendentes na obtenção de sucesso em suas carreiras escolares, desde a infância atá a idade adulta quando conquistam títulos de graduação e/ou pós-graduação.
Ao contrário de relegar ao esquecimento aquelas mulheres que nunca chegaram a tais sucessos, enfatizamos o outro lado da moeda para refletir sobre os desafios ainda persistentes em nossa sociedade com relação as discriminações e exclusões contra as mulheres e mais ainda, as mulheres afrodescendentes.
Os textos (também imagens) aqui publicados serão a partir dessa ótica.
Acreditamos estar colaborando para discutir a concretização das políticas públicas brasileiras no que diz respeito um seguimento da população que sofre diversas discriminações e racismos no nosso contexto sócio-cultural. Pois, mexer em questões tão complexas e contemporâneas,  é no mínimo, instigar posicionamentos e práticas mais justas e libertadoras.


Sejam bem-vindas e bem-vindos ao nosso RAÇA E GÊNERO NA EDUCAÇÃO!
Reunião da Equipe de Estudo do Projeto - Teresina, 13/09/2010.


por Francilene Brito.

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